Estudantes da Escola Estadual Dom Otávio Barbosa Aguiar, localizada no bairro Benedito Bentes, em Maceió, realizaram um protesto nesta quinta-feira (14) após serem vítimas de transfobia dentro da unidade. A manifestação ocorreu em frente à escola, contando com a presença de familiares das vítimas, professores, ativistas e outros estudantes apoiando a causa.
Sthela Rocha de Oliveira, de 18 anos, relatou ao 7Segundos que, no dia 8 de novembro deste ano, durante o último dia dos jogos internos, ela e duas amigas estavam no banheiro feminino quando o porteiro da escola as abordou. Segundo Sthela, o porteiro informou que a direção não permitia “mulheres gays” e “mulheres que se vestem de menino” no local. Ele insistiu que as jovens saíssem, afirmando que não poderiam permanecer no mesmo ambiente que as outras estudantes.
As jovens, então, dirigiram-se à direção da escola para relatar o ocorrido. Lá, uma das diretoras questionou se elas eram “mulheres de verdade”. “Essa pergunta nos deixou confusas e constrangidas. Depois, perguntamos se era verdade o que o porteiro havia falado, e ela confirmou que era uma ordem do conselho, alegando que alguns pais se sentiam desconfortáveis com a presença de alunas ‘gays’ no banheiro”, relatou Sthela. Em seguida, elas procuraram ajuda com uma professora mentora, mas a professora disse não ter conhecimento da situação. Logo após, os diretores chegaram à sala dos professores, e um deles afirmou que não havia lei que permitisse a entrada de mulheres trans nos banheiros femininos caso não fossem operadas.
Em um dos vídeos enviados à reportagem, a diretora usa repetidamente o termo pejorativo “mulheres homossexuais” para se referir às estudantes. Em outro momento, ela afirma respeitar que Sthela seja chamada por seu nome social, mas ressalta que, no documento de identificação, ela continua sendo chamada pelo nome correspondente ao gênero oposto. “Sua documentação é emitida como Sthela? Não, está com o nome que você foi ‘matriculado’. Entendo a angústia de vocês, mas não é preconceito, pois vivemos em uma sociedade machista e cheia de preconceitos. É um banheiro onde você se desnuda”, declarou a diretora. Após as falas transfóbicas, uma das estudantes respondeu, tentando corrigi-la.
Sthela, que está na 2ª série do ensino médio, afirmou à reportagem que a direção as coagiu e que se sente extremamente abalada. “Foram falas totalmente constrangedoras, causaram muitos gatilhos para mim, especialmente para minha amiga, que até hoje não voltou para a escola e não está saindo de casa. Fiquei muito abalada”, disse a estudante.
Resposta da Seduc
Em nota, a Secretaria de Estado da Educação de Alagoas (Seduc-AL) informou que repudia qualquer forma de preconceito e discriminação. A Seduc realizou uma reunião com a equipe gestora da unidade para implementar medidas de proteção aos estudantes trans, autorizando o acesso das estudantes trans ao banheiro feminino.
A Seduc também comunicou que será realizada uma nova capacitação para professores e servidores da unidade, juntamente com a gestão escolar, sobre o uso do nome social no Sistema de Gestão Escolar do Estado (Sageal), que já é permitido no ato da pré-matrícula.