A obesidade entre crianças e adolescentes mais do que triplicou globalmente entre 1990 e 2021, e a tendência é que esse número continue a crescer. De acordo com novas estimativas publicadas nesta segunda-feira (3), cerca de um terço das crianças e adolescentes terão sobrepeso ou obesidade até 2050. Isso representa aproximadamente 746 milhões de jovens com essas condições nos próximos 25 anos, com metade deles apresentando obesidade. As regiões do Norte da África, Oriente Médio e América Latina e Caribe devem ser as mais afetadas.
Para os adultos, a previsão é que cerca de 60% da população acima de 25 anos estará com peso acima do ideal até 2050, totalizando cerca de 3,8 bilhões de pessoas.
Esses dados foram divulgados em dois artigos publicados na revista Lancet: um focado em obesidade e sobrepeso entre adultos e outro sobre crianças e adolescentes. O segundo artigo surgiu da constatação de que pouco se estudava a obesidade nessa faixa etária. Até então, faltavam dados específicos para crianças e adolescentes e informações detalhadas sobre diferentes países e regiões. Os artigos foram baseados na metodologia do Global Burden of Diseases (GBD), que compila informações de saúde global estratificadas por regiões e faixas etárias, com dados de cerca de 1.300 fontes.
Os pesquisadores estimaram a prevalência de obesidade e sobrepeso entre crianças, adolescentes e adultos entre 1990 e 2021 em 204 países e extrapolaram esses dados para prever o cenário até 2050.
O sobrepeso é identificado quando o IMC (Índice de Massa Corporal) ultrapassa 25 kg/m², e a obesidade é diagnosticada quando o IMC é superior a 30 kg/m². Até 2021, África e Oriente Médio apresentaram as maiores taxas de obesidade e sobrepeso entre crianças e adolescentes. Por outro lado, regiões como Sudeste e Leste da Ásia, além da Oceania, tiveram os maiores aumentos na prevalência de obesidade entre 1990 e 2021.
A América Latina viu uma desaceleração no aumento de obesidade e sobrepeso entre crianças e adolescentes por volta de 2021. Contudo, antes disso, a região, especialmente o Brasil e outros países tropicais, teve um papel importante no crescimento dos índices globais dessas condições. Entre a população adulta, de 1990 a 2021, estima-se que 1 bilhão de homens e 1,1 bilhão de mulheres tenham apresentado obesidade ou sobrepeso.
O Brasil ocupa a quarta posição globalmente, com 88 milhões de adultos afetados, atrás apenas de China (402 milhões), Índia (180 milhões) e Estados Unidos (172 milhões).
Para o futuro, espera-se que a prevalência de sobrepeso entre crianças e adolescentes se estabilize, mas não devido à diminuição do IMC médio nessa faixa etária. A principal razão será a transição dos casos de sobrepeso para obesidade. A obesidade entre jovens ao redor do mundo deve mais do que dobrar entre 2021 e 2050.
Os pesquisadores destacam que não há sinais de estabilização da obesidade antes de 2050, alertando para a necessidade urgente de medidas para conter esse aumento acelerado. Embora mudanças individuais, como melhoria na alimentação e aumento da prática de exercícios, sejam importantes, a implementação de políticas públicas para criar um ambiente favorável à manutenção de um peso saudável é crucial. No entanto, os pesquisadores lembram que não existem soluções universais, e cada população e região tem suas particularidades que devem ser consideradas no desenvolvimento dessas políticas.