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Pepe Mujica morre aos 89 anos e deixa legado de simplicidade, resistência e justiça social na América Latina



José “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai e figura emblemática da esquerda latino-americana, faleceu nesta terça-feira (13), aos 89 anos, em Montevidéu, após enfrentar um câncer de esôfago diagnosticado em abril de 2024. Sua trajetória política e pessoal marcou profundamente o cenário político da América Latina.

Uma vida de luta e coerência

Nascido em 20 de maio de 1935, Mujica teve uma juventude marcada pelo ativismo político. Nos anos 1960, integrou o Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros (MLN-T), uma guerrilha urbana inspirada na Revolução Cubana. Durante a ditadura militar uruguaia, foi preso por 15 anos, muitos dos quais em condições severas de isolamento.

Com a redemocratização do país em 1985, Mujica foi anistiado e iniciou sua carreira política institucional. Fundou o Movimento de Participação Popular (MPP), integrado à coalizão de esquerda Frente Ampla. Foi eleito deputado, senador e, posteriormente, ministro da Agricultura. Em 2009, venceu as eleições presidenciais, governando o Uruguai de 2010 a 2015.

Um presidente singular

Durante seu mandato, Mujica implementou políticas progressistas que colocaram o Uruguai na vanguarda social da região. Entre suas principais realizações estão a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, a descriminalização do aborto e a regulamentação da produção e venda de maconha. Também promoveu iniciativas como o Plano Juntos, voltado para a construção de moradias populares, e a criação da Universidade Tecnológica do Uruguai.

Conhecido por seu estilo de vida austero, Mujica recusou-se a residir no palácio presidencial, optando por permanecer em sua chácara nos arredores de Montevidéu. Doava a maior parte de seu salário presidencial para projetos sociais e era frequentemente visto dirigindo seu Fusca azul, símbolo de sua simplicidade.

Legado e despedida

Após deixar a presidência, Mujica continuou ativo na política até 2020, quando renunciou ao Senado para evitar riscos relacionados à pandemia de COVID-19. Em abril de 2024, anunciou publicamente o diagnóstico de câncer de esôfago, optando por não se submeter a tratamentos agressivos e receber cuidados paliativos.

Sua morte gerou uma onda de homenagens por toda a América Latina e além. Líderes como o presidente uruguaio Yamandú Orsi, o colombiano Gustavo Petro, o boliviano Evo Morales e a mexicana Claudia Sheinbaum destacaram sua integridade, humildade e compromisso com a justiça social. Pedro Sánchez, presidente do governo espanhol, ressaltou que Mujica viveu a política “desde o coração”

José Mujica deixa um legado de coerência entre discurso e prática, sendo lembrado como um líder que priorizou valores humanos sobre interesses materiais. Sua vida e atuação política continuam a inspirar movimentos progressistas e cidadãos comprometidos com a construção de sociedades mais justas e solidárias.


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