Polícia

MP vê tentativa de homicídio e pede prisão de pai que deixou filha de 3 anos sem comer por 40 dias

A promotoria de Justiça do Ministério Público de Rio Claro (SP) entrou com recurso contra a decisão que concedeu liberdade provisória ao homem preso em flagrante por ter mantido a filha de 3 anos sem alimentação durante 40 dias. O promotor Cássio Sartori considera que houve tentativa de homicídio.

A menina está internada na Santa Casa e respondendo bem ao tratamento e já ganhou 2 quilos, informou o hospital nesta segunda-feira (05).

O pai de 36 anos foi solto após passar por audiência de custódia no sábado (03). O nome dele não foi divulgado, por isso não foi possível localizar a defesa.

‘A gente não sabe como ela resistiu a isso’, diz médica

Ela é acompanhada por pelo menos 5 profissionais de saúde na Santa Casa e não corre risco de vida, segundo a médica pediatra Sâmila Batelochi Gallo. Ela chegou ao hospital com 8 quilos, mas a média ideal para a idade é de 15 quilos.

“A gente não sabe como ela resistiu a isso. Eu imagino o quanto ela sofreu nesses 40 dias de fome. Eu nunca vi na minha profissão. Mais alguns dias ela já entraria em óbito”, disse Sâmila.

Condições após o resgate

Segundo Sâmila, a menina ficou um dia na Unidade de Terapia Intensiva e depois foi para a enfermaria da pediatria. “[Chegou em estado] muito crítico. Extremamente desnutrida, desidratada”, disse a pediatra.

A criança estava nas seguintes condições:

Desnutrida e desidratada
Ossos aparentes
Sem massa muscular
Excesso de pele
planta dos pés e das mão brancas, que indica falta de vitaminas.
Mãos geladas por conta da hipotermia
Fraqueza

Ainda segundo a médica a menina tinha dificuldade para ficar sentada. “Abria os olhos, mas não tinha essa atividade que a gente espera de uma criança de 3 anos”, disse.

A pediatra Sâmila Batelochi Gallo é uma dos médicos que cuidam de menina. (Foto: Reprodução/EPTV)

Como é o tratamento

Ainda de acordo com a pediatra a alimentação tem que voltar aos poucos para não causar alterações metabólicas.

“Começamos com 60 calorias por dia. Ela começou a já alimentar por boca nesse instante, mas a gente pegou uma dieta bem pastosa, sem lactose, grande quantidade de proteínas. De 1 a 2 gramas de proteína por quilo por dia. E soro isotônico para tentar repor tudo isso”, explicou.

São feitos exames diários e, além da pediatra, a menina é acompanhada por psicóloga, fonoaudióloga, nutricionista e fisioterapia para a parte motora.

“Ela chegou com 8 quilos e está com 10 quilos, ganhou 2 quilos. A gente vê que ela já tem uma bochechinha, ela já senta e está começando a caminhar. Falar ainda nada. A gente não sabe se ela já não falava anteriormente, mas ela só dá umas balbuciadas, a gente não entende o que ela fala”.

Questionada sobre a possibilidade de sequelas, a médica afirmou que ainda não é possível saber.

“O que mais afeta é a parte neurológica, cognitiva, mas isso a gente vai avaliar com o tempo. Eu acredito que ela vai ter uma sequela psicossocial, porque é uma criança não ia na escola, só ficava trancada dentro de casa”, concluiu.

Tentativa de homicídio

Para o promotor Cássio Sartori, o pai deve ser preso preventivamente. De acordo com a promotoria, trata-se de uma tentativa de homicídio, pois o pai tinha o dever de alimentar a filha e, consequentemente, evitar o resultado morte.

No recurso, Sartori cita ações em tramitação na Vara de Família apontando que o pai impedia aproximações entre a menina e a avó materna.

Segundo a promotoria, a avó procurava com frequência o pai da menina para ajudar financeiramente e com alimentos. Oficiais de Justiça já haviam tentado entrar no apartamento anteriormente, mas foram impedidos pelo pai.

Ainda segundo o promotor, inventário de bens deixados pela mãe do suspeito aponta que ele tinha bens e recursos financeiros para alimentar a filha.

O caso é investigado pelo 3º Distrito Policial (DP) de Rio Claro, que está aguardando os laudos para dar continuidade ao inquérito.

O caso

A menina foi encontrada em estado de desnutrição na sexta-feira (02) em um condomínio no Jardim Portugal. A oficial de Justiça que participou do resgate disse nunca ter visto nada parecido em seus 29 anos de profissão.

“Muito triste, uma coisa degradante. Não dá para imaginar que um ser humano possa chegar a essa situação”, afirmou Cibele Habermann da Silva.

Os agentes de justiça e segurança foram até a casa do pai da menina, após a avó materna não conseguir mais contato com o pai para visitar a menina.

A mãe da criança morreu pouco tempo após o parto e a guarda ficou com o pai, mas a avó tinha permissão para visitá-la.

Sem conseguir contato com o pai, a avó entrou com uma ação e a Justiça expediu um mandado para a visita.

Os oficiais de Justiça tentaram a primeira visita na quinta (1º), mas o homem não permitiu a entrada. Eles então retornam no dia seguinte com a Guarda Civil Municipal (GCM) e o Conselho Tutelar, quando entraram no apartamento e encontraram a menina desnutrida.

Fonte: G1 São Carlos e Araraquara


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