As festas noturnas, com iluminação intensa, música alta e bares flutuantes, conhecidas como “Banho de Lua”, nas piscinas naturais da praia de Ponta Verde, se tornaram uma atração popular neste verão em Maceió. Embora o passeio tenha se tornado uma tradição turística, gerando belos momentos para os visitantes, as festas nos recifes de corais têm chamado a atenção de biólogos e pesquisadores, que alertam sobre os impactos negativos dessa prática na biodiversidade marinha.
De acordo com o professor Robson Guimarães dos Santos, doutor em biologia animal e pesquisador do Laboratório de Ecologia e Conservação no Antropoceno da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), as atividades realizadas nos recifes estão colocando em risco não apenas a biodiversidade, mas também o futuro do turismo em Alagoas.
Santos explica que as festas noturnas, com iluminação intensa e som alto, afetam diretamente os organismos marinhos. A luz artificial pode desorientar várias espécies e interferir na reprodução dos corais, causando desequilíbrios irreversíveis no ecossistema. “A poluição luminosa e sonora impacta o comportamento dos organismos marinhos, atraindo predadores para áreas onde normalmente não estariam. A música alta prejudica a comunicação entre peixes e invertebrados e estressa animais sensíveis, como tartarugas marinhas e peixes que usam os recifes como ponto de descanso”, alerta.
Além disso, ele destaca que o turismo desordenado pode agravar ainda mais a situação dos recifes, já fragilizados por outros fatores, como o aquecimento das águas. No ano passado, foi registrado em Alagoas uma mortalidade de 80 a 90% dos corais dos recifes rasos, uma consequência direta do aumento da temperatura dos oceanos. “Estamos em uma crise global dos recifes de corais, que já enfrentam degradação costeira e os impactos das mudanças climáticas. Atividades turísticas descontroladas apenas agravam esse quadro”, enfatizou o pesquisador.
A degradação contínua dos recifes de corais é uma preocupação crescente, pois esses ecossistemas são essenciais para a biodiversidade marinha e para o turismo sustentável. O professor Robson Guimarães dos Santos alerta que, sem regulamentação e controle das atividades turísticas, o futuro dos recifes e a saúde do ecossistema marinho em Alagoas estão ameaçados.
Naufrágio Durante Passeio “Banho de Lua”
No último dia 26 de dezembro, um incidente envolvendo o passeio “Banho de Lua” em Maceió chamou ainda mais atenção para os riscos dessas atividades. Uma embarcação clandestina naufragou durante o passeio, levando 12 pessoas a serem resgatadas. As vítimas foram levadas para a praia, sendo que 11 não precisaram de atendimento médico, enquanto uma mulher de 25 anos, com afogamento grave e fratura craniana, foi encaminhada ao hospital. O condutor da jangada, que não possuía habilitação, fugiu do local após o acidente.
Esse episódio evidencia a necessidade de maior fiscalização e regulamentação no turismo, para garantir a segurança dos participantes e proteger o ambiente marinho local.